Poemário (semana 4) João Veríssimo

Improviso da alma e do poeta
(Rogério Martins Simões)

Dia a dia o desamor
Quebra o sentido da vida
sofre-se em segredo
E na incerteza...
Reina a ganÂncia,
A injustiça
O sofrimento, a pobreza
E o medo!

É fácil dizer:
Temos de ser solidários!
Ser... não é fácil?
A vida é tortuosa,
Manhosa
vai tudo numa pressa.
E na pressa tudo olha
Nada se vê!

Olho! Nada vejo!
Olho! Nada sinto!
Olho! Olho! Olho!
Que vejo?

Vai tudo na pressa
À velocidade do salário
Vai tudo na pressa
À velocidade do ganho!
E o homem virou máquina,
Computador
Autómato.

Mas... o luar está igual
E o céu não mudou!

Mudou a humanidade
Que perdeu a individualidade.
Passámos a ser números,
Peças de inventário.
Desumanidade!

Dia a dia
caem os valores morais
Perfilam as estatísticas
Dos ganhos:
Ganha a produção:
Ganha-se menos!
trabalha-se mais:
Ganha-se menos!
Que importa?
Se um homem tem fome?
E se há revolta.
Que importa?
A quem importa?
Importa é o dinheiro
Ser rico,
Virar banqueiro.

Mas... a areia cintila no deserto!
E nem tudo o que brilha é oiro
- Não vedes o céu a irradiar?!

Não! A humanidade não luz:
A sociedade é egoísta,
Prolifera o desamor.
Importa é estar na "berra"
E neste egoísmo nada sobra.
Está quase a bater no fundo!

Estes tempos são difíceis
Só há tempo para o fútil,
Para a notícia brejeira,
Para a asneira
Para a cuscuvilhice.
E nesta agitação...
A alma consome
E o corpo mata.

Mas o mar permanece azul!
O melro assobia
E o vento vira furacão.

Passou o tempo...
(O tempo passa depressa)
E na pressa
Não há tempo para filhos.
Dos filhos para os avós.
Dos avós para os netos.
Dos meninos para a família!

Volta poesia!
Volta poeta...
Acredita...
Que estamos no Outono,
Mais logo... será Inverno,
Vem aí a Primavera
Tudo será verde... renascido,

E de volta ao lar,
Em redor da lareira
Quando o dia findar,
Os avós,
Os pais
E os netos
Recordarão histórias da vida,
Contadas sem segredos,
(Segredos bem guardados).
E desses segredos
Renascerão
Os gestos colectivos de amor
Repreendidos
E esconjurados
Os actos egoístas
De desamor.

E os meninos
De volta às escolas
(sem números nas camisolas)
Pintadas a lápis de cor
Vão ter recreios doirados
E mil e umas aventuras
E se treparem às árvores,
Subirão à "Torre de Babel"
E todos se entenderão
Na mesma língua.
Porque a terra vai ser paraíso
E os frutos não mais serão
proibidos...